Por todo o lado oiço e leio sobre o Natal que não será Natal. Todos reclamam que não podem estar com os familiares e porque os lares estão fechados para visitas. A reclamação é tanta que acho que a consequência maior do COVID é que aguçou a crítica humana e andamos todos fartos de tudo e de todos. (Então para quê estar juntos no Natal?!)
Os próprios familiares perguntam como será o Natal ou quando podem fazer visitas, na verdade, andamos todos a sobrecarregar todos de sentimentos menos bons porque ninguém sabe quando isto acabará ou se algum dia acabará, e se acabasse não seria preciso a vacina e era só “deixar andar”…
Sempre ouvi dizer que o Natal é quando o homem quer, e o que mais vejo é que o homem não quer o ano todo, são capazes de desaparecer do mapa, de nunca ligarem para saber se estão bem, nem ajudam se a pessoa precisar, não têm tempo para os mais velhos que ficam internados meses, em hospitais ou “depositados” em lares sem visitas, mesmo havendo horário para o efeito.
É triste? Sim é. É triste a hipocrisia humana. Desculpem, mas tenho de generalizar porque tirando um ou outro caso as pessoas não se querem bem. Mesmo (principalmente) dentro da família é onde encontramos os melhores e os piores, os melhores que nos querem bem e nos acompanham a todo o lado mesmo sem estarem presentes, como os piores que só querem a nossa desgraça e estão sempre lá para fazer aquele sorriso de satisfação porque não estás bem.
Mas, são com esses melhores e piores que te reúnes no natal e porquê? Porque é Natal! mas o Natal não é isto.
Natal não é hipocrisia e falsidade. Já há muitos anos que deixei de enviar mensagens de natal. Lembro-me de um ano, logo após ter regressado a casa dos meus pais, ter recebido centenas de mensagens incluindo de pessoas com que já nem me dava, outras que me dececionaram e eu disse-lhes isso na cara e deixamos de conviver. Dei por mim a pensar que o Natal é uma falsa alegria para uma grande maioria das pessoas.
Tirando o peso religioso que o Natal representa, o meu natal perfeito de criança era com os de casa, eu, os meus irmãos e os meus pais. E sabem de uma coisa? Era tão, mas tão bom!!!
Passava o dia a comer chocolates e doces, iguarias feitas pela minha mãe (que nós também ajudávamos a fazer) e víamos filmes até dormir.
Parece assim um Natal tão mau?
Porque é que as pessoas são hipócritas? A maioria dos indignados com as restrições de Natal são os que não sabem o que significa este quadra. São aqueles que mandam mensagens a quem não gostam a desejar um “Feliz Natal” e só nesta época deixam de virar a cara na rua. Bem, isto talvez não porque este ano ninguém se reconhece na rua porque andamos todos de máscara, pelo menos quem anda na rua…
Na verdade, são estas mesmas pessoas que faltam às visitas aos velhotes que deixaram num lar com desculpas de que têm muito trabalho, estão doentes ou simplesmente tiveram um imprevisto. Mas, todos sabemos que tipo de imprevisto foi… falta de vontade!
Este ano não vou almoçar a casa dos meus pais como faço todos os anos, estamos a proteger os nossos, mas vou estar com eles. Sim, vamos fazer videochamada e almoçar todos juntos e conversar como se estivéssemos juntos, porque na verdade vamos estar.
Ok, ok… não dá para jogar às cartas mas há outros jogos que dá para fazer, o meu filho já aprendeu a brincar com o tio com os carros… cada um na sua casa! (Aqui o tio troca o juízo pelo sobrinho 😀 )
A conclusão a que chego é que há muita falta de vontade das pessoas. Usam as redes sociais e a Internet de forma errada. Supostamente e a grande razão da utilização da Internet e das redes sociais, dizem, é para aproximar as pessoas, então eu digo: aproximem-se! E digo-vos que ultrapassam (à grande) o distanciamento sugerido pelas autoridades.
Têm saudades de um abraço? Já pensaram quantas vezes, nos últimos 5 anos, abraçaram os vossos filhos já pais de família? Quantas vezes abraçaram os vossos pais? Netos, amigos, conhecidos, etc., todas as pessoas que agora fazem questão de dizer que têm saudades mas que na realidade é drama! Deixem de ser dramaqueens!!!
Sim, drama! Porque estão proibidos os ajuntamentos, porque sugerem o distanciamento, uso de máscaras, higienização das mãos, entre outras recomendações, as pessoas levam como uma afronta e tudo o que é proibido é mais apetecível.
De um dia para o outro acordaram com vontade de se abraçar, beijar e tudo mais… até mesmo à vizinha de cima que sacode os tapetes para a tua varanda, mas não faz mal porque, de repente, tens uma enorme vontade de a abraçar, embora nem gostes da senhora.
Eu tenho saudades de abraçar a minha mãe e dar-lhe muitos beijinhos, tenho saudades porque sempre o fiz, embora agora acho que devia ter feito muito mais. Mas mesmo que o tivesse feito não ia deixar de ter saudades, porque sentimos saudades daquilo que gostamos e sempre fizemos.
Com isto quero dizer que deixem-se de merdas e é só este Natal. Em principio, para o ano tudo será diferente e aproveitem para festejar tudo em dobro. Mas, principalmente, aproveitem para abraçar mais, para dizerem a quem de direito que gostam deles, que os amam, passem mais tempo juntos quando for possível fazê-lo.
Neste momento, só nos pedem para ter um pouco de senso comum, cuida de ti e dos outros, dos que amas, dos que são mais frágeis. Pára para pensar que os teus atos podem ter consequências graves e irreversíveis para aqueles que dizes amar.
Não me queria alongar com este texto mas já alonguei… indigna-me a falsidade e as mentes limitadas de uma grande parte das pessoas.
Não visitem só porque querem, liguem e façam videochamadas porque o contacto e a comunicação é possível através de um smartphone, digo eu.
Fiquem cada um nas suas casas, aproveitem para viver o Natal em vossas casas e aprendam a reinventar-se. Façam um plano para conseguirem falar com todos e acreditem vão ficar tão cansados como se tivessem a casa cheia de gente.
Este ano será diferente mas ninguém cancelou o Natal. Se todos aceitarmos e reinventarmos o Natal de 2020 estaremos todos presentes em 2021. Pensem nisto…
…e tenham um Feliz Natal!
Sem descer do Salto (Agulha) 